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Meu Trabalho Pelo Acre

06 de dez de 2021

Jorge Viana: Um Novo Jeito de Pensar o Acre
Comício de Jorge Viana com Lula em 1990
As eleições de 1990 marcam o início a uma grande mudança social e política no Acre e revelaram a ascensão de uma […]

Foto da campanha de 1990 com Jorge Viana, que era candidato ao governo do Acre, Lula e Mário Maia

As eleições de 1990 marcam o início a uma grande mudança social e política no Acre e revelaram a ascensão de uma nova geração, representada pelo jovem engenheiro florestal Jorge Viana. Com uma campanha intuitiva, baseada na militância voluntária e na adesão da juventude, Jorge conseguiu romper a antiga polarização PDS x PMDB e deixar para trás grandes “caciques” que dominavam a cena política até então. Tal fenômeno repetia, no âmbito estadual, mudança ocorrida  no ano anterior, na primeira eleição direta para Presidente da República depois dos 20 anos da ditadura militar. Lula, o operário que fundara o Partido dos Trabalhadores, chegou ao segundo turno e, embora não tenha sido vitorioso, consolidou-se como uma grande liderança nacional.

Mesmo antes de filiar-se ao PT, Jorge organizou eventos de apoio à candidatura de Lula, em 1989, da mesma forma como tinha ajudado nas campanhas de Chico Mendes nos anos anteriores. Preocupados com a situação no Acre após o assassinato de Chico Mendes, um grupo começou a se reunir na sede do CTA, Centro de Trabalhadores da Amazônia, uma organização que mantinha projetos de educação e cooperativas entre os seringueiros. Ali nasceu a ideia de lançar um candidato ao governo do Acre e o escolhido foi, naturalmente, Jorge Viana. Ele explica: “a gente tinha perdido tudo, até a vida de muitos companheiros, nossa história era desprezada, a política fechava as portas para o nosso povo e abria oportunidades para forasteiros como o Rubens Branquinho, que estava em primeiro lugar nas pesquisas… Esse nosso grupo começou a sonhar com um movimento de recuperação do Acre. Éramos jovens, todos em torno de 30 anos de idade, que era a idade mínima exigida pela lei para ser candidato. Eu faltei em uma reunião, tinha uma viagem a trabalho, quando voltei o pessoal veio me perguntar a minha idade. Eu tinha 29, mas já ia fazer 30…” O passo seguinte foi conversar com a família, com o bispo D. Moacyr Grecchi, com os dirigentes dos partidos, articular a candidatura.

A campanha de Jorge Viana teve um crescimento rápido: em março, o candidato era praticamente desconhecido e tinha menos de 5% nas pesquisas de intenção de voto. Os candidatos dos partidos maiores empatavam em torno de 15% e o “já ganhou” tomava conta da campanha de Rubens Branquinho, líder local dos ruralistas, que ameaçava ganhar no primeiro turno com 48% das intenções de voto. Acabou em 4o lugar, após o confronto direto com a campanha de Jorge.

A coligação liderada pelo PT fez 3 deputados estaduais (Marina Silva, com a maior votação, Nilson Mourão e Sérgio Taboada) e Jorge disputou o segundo turno com Edmundo Pinto, que terminou sendo eleito. Foi a primeira vez que o Partido dos Trabalhadores disputou um segundo turno para governo no Brasil.

A campanha de 90 foi um grande movimento popular, especialmente da juventude, e as pessoas faziam filas para comprar as camisetas coloridas ou com fotografias de Jorge. Além das grandes passeatas e carreatas, surgiram eventos criativos, com outros formatos, como o abraço ao Palácio Rio Branco, as cicleatas e até um grande desfile de barcos. Uma enorme bandeira do Acre, com 100 metros de comprimento, era levada nas manifestações.

Um novo jeito na linguagem política do Acre

Foto de Jorge Viana em comício da campanha de 1990A primeira campanha de Jorge Viana introduziu três grandes mudanças no padrão da linguagem política local. A primeira, foi a restauração da identidade regional, a “acreanidade” que estava expressa no uso das cores da bandeira do Acre e do Hino Acreano – mais forte que o jingle de propaganda nos programas de rádio e televisão. O povo acreano não era mostrado como fraco e desamparado, mas forte e protagonista de uma história de bravura.

A segunda grande contribuição da campanha de 1990 foi a proposta de um Plano de Governo”. Ao invés das promessas e acenos generalistas ao “progresso”, Jorge Viana apresentava, sob o slogan “o Acre tem jeito”, um novo modelo de desenvolvimento e uma nova forma de gestão, com base nas características e potenciais do estado. O que fundamentava o plano constitui a terceira contribuição da campanha: a ideia de que o Acre tem sua principal riqueza e vocação econômica na floresta, que deveria ser a base de seu desenvolvimento. Ganhavam destaque a cultura e o trabalho das populações da floresta, especialmente índios e seringueiros, numa renovação das ideias de Chico Mendes e da rede internacional de solidariedade que havia se formado após seu assassinato, dois anos antes.

A partir de 1990, essas ideias passaram a dar o tom das disputas políticas. As eleições passaram a ser mais que uma competição entre partidos e candidatos, um confronto de projetos e modelos de desenvolvimento.

Jorge Viana é Acreano, engenheiro florestal e professor de gestão pública no IDP.